domingo, 27 de março de 2022

POR QUE OS PADRES, ASSIM COMO AS FREIRAS, NÃO CASAM?

Padre Fábio de Melo no momentos da transubstanciação
 

A religião cristã nasceu e desenvolveu-se na Antiguidade Clássica, dentro do quadro político-cultural do Império Romano. Durante os primeiros séculos da Era Comum, o cristianismo se expandiu e conquistou poder e um grande número de adeptos! No ano 313, Os imperadores Constantino e Licínio, assinaram o Édito de Milão, concedendo aos cristãos a liberdade de culto e ao mesmo tempo restituindo os bens à Igreja, que nessa época se equiparava à religião pagã, tanto em direitos como em privilégios. Em 391, o cristianismo torna-se a religião oficial de todo o Império Romano, e com isso, todas as outras religiões pagãs passaram a ser perseguidas.
A maioria dos católicos não sabem, mas durante os primeiros séculos do cristianismo, aos sacerdotes e bispos não era proibido o matrimônio. Os evangelhos sinópticos (Mateus, Marcos & Lucas) indicam que o discípulo Pedro (considerado pela Igreja Católica como o primeiro Papa) era casado, e outros seis papas também viveram em matrimônio. Foi o Concilio de Elvira (306), que o permitiu o sacerdote celebrar a missa, caso ele tivesse dormido com sua esposa na noite anterior. Já o Concílio de Niceia (325) – O mesmo concilio que firmou as bases religiosas e ideológicas da Igreja Católica Apostólica Romana – estabeleceu que, uma vez ordenados, os sacerdotes não podiam mais casar-se.
Durante toda a Idade Média (476-1491) a Igreja era detentora do
Deus - Centro da Existência...
saber e do conhecimento. Nesse quadro existia o Teocentrismo, filosofia ou doutrina que considera Deus o fundamento de toda a ordem no mundo. A própria organização da sociedade medieval (dividida em Clero, Nobres e Servos) era um reflexo da chamada Santíssima Trindade.
Além de se destacar pela sua presença no campo das ideias, a Igreja também alcançou grande poder material. Durante toda a Idade Média ela passou a controlar grande parte dos territórios feudais (num contexto em que terra era sinônimo de riqueza!), se transformando em importante chave na manutenção e nas decisões do poder nobiliárquico.
O Historiador Leo Huberman, em sua obra História da Riqueza do Homem afirma:
“Enquanto os nobres dividiam suas propriedades, a fim de atrair simpatizantes, a Igreja adquiria mais e mais terras. Uma das razões por que se proibia o casamento aos padres era simplesmente porque os chefes da Igreja não desejavam perder quaisquer terras da Igreja mediante herança aos filhos de seus funcionários”.

Padre Fábio de Melo
Assim a Igreja Católica adota o celibato dos padres e freiras como um importante mecanismo de conservação do seu patrimônio. Ao contrário da nobreza – que tinha seus bens repartidos por heranças, casamentos, lutas pela posse da terra, etc. -  a Igreja só acumulava riquezas, já que os bens não pertenciam aos religiosos, mas a instituição em si.
Durante o papado de Gregório VII, a partir de 1537 – 20 anos depois da Reforma Protestante! – o celibato torna-se obrigatório para o clero, onde um sacerdote romano que se casasse incorria na excomunhão e ficava impedido de todas as funções espirituais.



Antônio Miranda de Freitas Junior – Historiador e Poeta

           AREAS DE INTERESSE: HISTÓRIA, RELIGIÃO & FILOSOFIA 

SLIDES_SOCIEDADE FEUDAL_NOBRES