sábado, 15 de julho de 2023
CONTEXTO DA REFORMA PROTESTANTE
A reforma protestante ocorreu em um contexto de grandes transformações sociais, políticas, culturais e econômicas na Europa. A formatação da Europa nos moldes medievais estava em declínio e novas realidades estavam surgindo. Era uma Europa que via o comércio desenvolver-se e novos interesses políticos surgindo. Tratou-se de um período de mudanças culturais, pois a cultura renascentista defendia a ideia do homem no centro de todas as coisas como forma de quebrar a grande influência religiosa. As artes encontravam novas formas de expressão e o conhecimento científico avançava. A invenção da imprensa, no século XV, foi um fator crucial, pois garantiu maior produção de livros e ampliou a circulação de ideias. No campo religioso, a contestação da Igreja Católica era uma prática que vinha acontecendo desde meados da Idade Média. Esses movimentos religiosos questionavam a falta de moralidade, o abuso do poder, a avareza, a corrupção e todo tipo de desvio comuns na Igreja Católica na Europa.
Causas da reforma protestante
Entendemos que a reforma protestante foi um movimento reformista iniciado por Martinho Lutero em 1517. O contexto em que Lutero estava inserido é que nos ajuda a entender o porquê de o movimento iniciado pelo monge alemão ter tido sucesso. Primeiramente, é importante conhecermos o que motivou Lutero a manifestar-se contra as práticas vigentes da Igreja naquele período. Ele era um monge agostiniano e professor de teologia, portanto, era um membro do clero. Não obstante, ele não concordava com certas práticas realizadas no século XVI, e sua inquietude a respeito disso levou-o a posicionar-se. Um dos seus maiores questionamentos era sobre a venda de indulgências, prática em que a pessoa ofertava dinheiro em troca do perdão pelos seus pecados. Sua indignação era reforçada pelo fato de que o papa Leão X havia oferecido indulgências para todos que contribuíssem financeiramente para a construção da Basílica de São Pedro. Lutero também criticava a venda de cargos eclesiásticos e a venda de relíquias sagradas, ambas conhecidas como simonia. Suas críticas davam-se porque a ideia que o movia, teologicamente falando, era a de gratuidade da fé, isso quer dizer que ele não acreditava que obras, como pagar pelo perdão concedido pelo papa, garantissem a salvação de uma pessoa, mas que apenas a fé garantiria a salvação.
A insatisfação com as práticas e o debate teológico a respeito da salvação foram os fatores centrais que levaram o monge a posicionar-se. O movimento que Lutero iniciou não visava à separação da Igreja, mas sua moralização. Acontece que o que foi iniciado por Lutero propiciou que mudanças nos âmbitos políticos e econômicos fossem possíveis. Por isso que, para entendermos a reforma protestante, não basta analisarmos as motivações de Lutero. Nós precisamos entender o contexto histórico e os interesses que levaram muitos a apoiarem o monge alemão. Algo que já citamos aqui é o papel da imprensa na difusão das ideias luteranas. Por meio desse instrumento, seus escritos espalharam-se por toda a Europa e incentivaram reações contra a Igreja.
Politicamente a Igreja ainda representava uma grande força, uma vez que a consolidação do poder dos monarcas dependia da aprovação papal. Nesse sentido, ter o apoio do papa garantia uma influência muito grande, tanto internamente quanto externamente. A grande questão é que o século XVI foi um momento em que as demandas e os interesses políticos de cada reino começaram a tornar-se mais complexos. "Essa situação tem relação com o processo de formação dos Estados nacionais e de centralização do poder. As agendas políticas dos Estados formados eram muitos amplas, e, na maioria das vezes, os interesses dos reis desses locais não se encontravam com os interesses do papa. Nesse sentido, muitos nobres apoiaram a reforma de Lutero porque identificaram nela potencial para o enfraquecimento da Igreja, o que poderia garantir-lhes maior autonomia. Essa maior autonomia política também significava maior autonomia econômica para esses reinos, uma vez que garantia o fim de impostos pagos para a Igreja. No contexto alemão, a reforma também foi abraçada porque se encarava com indignação a grande quantidade de recursos e posses que a Igreja possuía, principalmente porque algumas regiões do Sacro Império eram bastante pobres.
Vários papas daquela época só chegaram a chefia da Igreja por pertencerem a famílias milionárias. Diversos padres não tinham nem ao menos instrução nem preparo para orientar os fiéis. Além disso, os líderes da Igreja Católica praticavam um comércio fraudulento de artigos religiosos. Vendiam objetos dizendo ser pedaços de ossos do jumento montado por Jesus; pedaços de um pano qualquer dizendo ser do manto de Maria, a mãe de Jesus, e várias outras “relíquias”. Acreditava-se que os objetos usados por Cristo, pela Virgem e pelos santos possuíssem uma milagrosa virtude curativa ou protetora para qualquer pessoa que os tocasse ou lhes chegasse perto. Era inevitável, porém, que tal crença desse ensejo a inúmeras fraudes. Tornava-se fácil convencer camponeses supersticiosos de que qualquer lasca de madeira velha era um fragmento da verdadeira cruz. E não faltava fraudes. De acordo com Erasmo (autor da época da Reforma), as igrejas da Europa possuíam pedaços de madeira da verdadeira cruz em quantidade suficiente para construir um navio! Nada menos de cinco tíbias do jumento montado por Jesus quando entrou em Jerusalém eram exibidas em lugares diferentes, para não falar em doze cabeças de João Batista. Além de alegarem possuir duas penas e um ovo do Espírito Santo (Burns Edward, 1948, p. 558). E mais: bispos e padres vendiam indulgências, isto é, perdão dos pecados.
“Assim que as moedas tilintam em minha sacola, a alma do fiel entra para o céu”.
A pessoa que fazia uma doação para a Igreja recebia um certificado de que ela estava perdoada de seus pecados. No final da Idade Média e início da Idade Moderna, muitas pessoas estavam insatisfeitas com os abusos da Igreja. Queriam uma religião mais simples, mais próxima dos ensinamentos de Jesus. Buscavam, enfim, uma nova maneira de ser cristão. Então no início do século XVI, um monge alemão, de nome Martinho Lutero, revoltou-se contra o escândalo da venda de indulgências e com isso deu início ao maior abalo já ocorrido no interior da Igreja: a Reforma Protestante.
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Feudalismo é o nome dado à forma de organização econômica e social vivenciada na Europa Centro-Ocidental durante o período histórico...