Sociedade no Antigo Regime.
O Antigo Regime (em francês, Ancien Régime) refere-se originalmente ao sistema social e político aristocrático que foi estabelecido na França. Trata-se principalmente de um regime centralizado e absolutista, em que o poder era concentrado nas mãos do rei. As estruturas sociais e administrativas do Antigo Regime foram resultado de anos de "construção" estatal, actos legislativos, conflitos e guerras internas, mas, tais circunstâncias permaneceram como uma mistura confusa de privilégios locais e disparidades históricas, até que a Revolução Francesa põe fim ao regime. Durante o Antigo Regime a sociedade era dividida em 3 Estados:
Primeiro Estado, representado pelo clero (bispos, abades, padres, frades e monges), representava 1% da população;
Segundo Estado, representado pela nobreza e família real representava 2% da população;
Terceiro Estado, era povo (que representava a burguesia, os camponeses) - ou seja, o restante da população e os trabalhadores urbanos, representava o resto da população.
No degrau mais alto estava o rei, que governava segundo a Teoria do Direito Divino na qual afirmava que o poder do soberano era concedido por Deus. O termo foi aplicado depois da revolução para diferenciar os dois tipos de governo. Muito da centralização política medieval da França se perdeu na Guerra dos Cem Anos, e a dinastia Valois se esforçava para restabelecer o controle sobre os “centros” políticos dispersos do país que estava prejudicado pelas Guerras Religiosas, que devastaram a França no século XVI e que opôs os católicos e protestantes. Muitos dos reinos de Henrique IV, Luís XIII e os primeiros anos de Luís XIV foram focados na centralização do poder administrativo. Cada estado, que compunha a sociedade francesa da época, tinha direito a um voto nas decisões das assembleias (Estados Gerais). Essa divisão era considerada injusta, pois a nobreza e o clero, que nesse sistema tinham direito a um voto cada, compunham na verdade um só grupo, já que, na época, o Estado era vinculado à Igreja Católica.
Apesar de, contudo, a noção de “Monarquia Absoluta” (tipificada pelo direito dos reis de emitir cartas que continham uma ordem expressa representando o desejo do monarca) e os esforços dos reis a fim de criar um Estado centralizado, o Antigo Regime francês permaneceu como um campo cheio de irregularidades: administrativas (incluindo a arrecadação de impostos), legais, judiciais, e com relação às divisões eclesiásticas, que frequentemente eram sobrepostas às outras esferas sociais, visto que naquela época a Igreja exercia um papel fundamental no âmbito da manutenção do poder absoluto e da manipulação social. Diante de tais repressões e abusos por parte do monarca, a nobreza francesa lutava para manter seus próprios direitos no que dizia respeito ao governo local e a justiça, ao passo que, fortes conflitos internos estavam sendo gerados contra a centralização.
"Antigo regime" é o termo que designa o modo de governo do Estado e da sociedade francesa durante a Era Moderna. Embora existam vários outros exemplos de reinos que podem ilustrar o conceito de monarquia do período, como a Espanha e a Inglaterra, a expressão em si costuma identificar predominantemente o modo de ser do Estado francês durante o período da dinastia Bourbon antes da eclosão da Revolução Francesa. No Antigo Regime, o princípio monárquico – ou seja, a pessoa e a instituição real – é sagrado, como visto pela cerimônia indispensável de coroação de um novo monarca. Ao rei francês, inclusive, são atribuídos poderes curativos por meio de um simples toque. Este caráter religioso da figura do monarca significava que o Estado francês tinha como objetivo alcançar a uniformidade religiosa entre os súditos. A essência sagrada da monarquia como um todo se inscreve, porém, em um sistema maior de simbolismos, onde a justiça e a dignidade reais eram imortais, não dependendo das figuras dos monarcas. Daí vem a teoria dos dois corpos do rei: um era humano e mortal, e outro era a própria instituição monárquica, que era perpétua e passava sucessivamente a cada rei após o falecimento de seu predecessor. Esta transmissão era familiar, derivando-se da chamada mística do sangue. Além de ter sido escolhido por Deus para liderar, o rei tinha um importante laço com seus súditos, numa dinâmica frequentemente comparada no início da Idade Moderna com a de um casamento; no caso, o dote trazido pela população em geral seria o próprio domínio a ser exercido pelo soberano sobre eles. Contudo, os súditos ainda poderiam ser representados nas decisões governamentais por meio da instituição nacional chamada de Estados Gerais. Nela, as três ordens dos reinos – clero, nobreza e povo – eram convocados pelo monarca para debaterem importantes questões do reino. Embora apenas se reunissem por ordem do soberano, os Estados Gerais eram um meio importante de garantir a legitimidade real. Fundamental para a manutenção do Antigo Regime era também a corte. Ainda no século XVII, o rei Luís XIV veiculou uma série de benefícios aos grandes nobres à sua residência permanente no Palácio de Versalhes, possibilitando assim seu controle ao erigir um complexo sistema hierárquico de corte que estimulava a competição da nobreza pelo favor real.